

O vestido chegou?
A comissão de recepção era organizada pelos jovens. Rapazes com terno de linho branco e moças em vestidos esvoaçantes ensaiavam as danças. Logo chegaria a grande festa, que marcava a apresentação, à sociedade, de moças que completavam quinze anos. Debutar envolvia o trabalho de mães, filhas, irmãs, primas e pais curiosos com os preparativos. Por mais de um mês, as conversas giravam em torno do acontecimento:
— Que sapato devo usar, — cetim liso ou todo bordado?
— Prefiro o liso.
Encontros eram marcados para discutir se escolheriam um estilista brasileiro ou se — trariam o vestido da Europa.
Uma das mães logo declarou sua escolha por Madame Rosita, pioneira da alta costura no Brasil. Com seus — modelos elegantes e bem-acabados em pouco tempo tinha conquistado grande clientela. Chegou a ter a sua Maison, esquina da Av. Paulista com Haddock Lobo, uma câmara frigorífica para guardar os casacos de peles das clientes.
— Minha filha, adora vestido rodado com faixa na cintura e laço.
— Cetim adamascado tem bom caimento. O que vocês acham do decote canoa e delicados bordados? Entre cafezinhos e docinhos, vestidos eram escolhidos. Quase sempre um modelo simples em tons variados de branco.
— Mãe, me dá um palpite: cabelo ondulado ou liso?
— Linda, o cabelo ondulado nas pontas é mais chique.
Algumas avós preferiam a Maison Dener. O costureiro se auto denominava — CoCo Chanel da moda brasileira, desenhava e confeccionava — modelos deslumbrantes. As senhoras marcavam visitas, que eram regadas a champanhe. E, entre o tilintar de copos e o som de um violino, ele chamava manequins para desfilar seus vestidos de — caimento impecável.
As colunas sociais ficavam alvoroçadas, sempre atrás de boas notícias e o diz-que-diz do esperado eventos.
Foi marcada uma reunião para decidir a decoração do salão. As jovens, algumas de mau humor, discutiam quem ficaria perto da orquestra. A briga só terminou com a intervenção da Matilde da chapelaria — O salão e a escada foram decorados com rosas, camélias, e folhagens, as mesas receberam toalhas de renda e arranjos com velas. Tudo um luxo.
— Mamãe, posso usar aquele colar que você ganhou do papai?
— Claro, filha, seu pai e eu estamos muito orgulhosos de você.
Era comum formar fila na entrada do clube para ver as debutantes que eram recebidas com gritinhos e palmas. Ao serem levadas para uma sala, a expectativa acelerava as emoções. As orquestras comandadas por Simonetti, Sílvio Mazuca e Românticos de Cuba iriam revezar. O colunista social Tavares de Miranda, chamava as debutantes que, uma a uma, entravam no salão, iluminadas por um spot para dançar com o pai a valsa de Strauss. Em seguida as famílias se reuniam nas mesas para desfrutar um saboroso jantar. Na saída as debutantes recebiam lembrancinhas. Eram as estrelas da noite.
Isso aconteceu até 1985, quando o Club Athletico Paulistano percebeu que o evento tinha cumprido a função e estava fora da nova realidade. Eram outros tempos.
Ficava no passado a época em que os rapazes jogavam pingue-pongue enquanto moças esperavam ser cortejadas. Grandes mudanças vieram e novos costumes surgiram. Olhando para trás é bom ver o quanto mudou o papel da mulher na sociedade. A vida das mulheres não podia continuar a ser obscura.
— Meninas sonhando com modelos de alta costura e tecidos? Nunca mais.
Maria Lucia Rizzo